“O chamado do Orixá não tem data”

Mãe Valéria nos recebeu em sua Casa de Axé, localizada em uma comunidade do Guarujá. O espaço é mais do que um terreiro:

é um santuário sagrado e um verdadeiro ponto de resistência, com uma aura capaz de desconcertar os preconceituosos e acolher com respeito aqueles que ali chegam.

Na entrevista, Mãe Valéria compartilha reflexões potentes sobre fé, dignidade e pertencimento. “O Candomblé em si é um resgate”, afirma. Para ela, essa religiosidade ancestral reeduca, reconstrói e transforma: “O autorresgate é de si próprio, você precisa se conhecer.” É nessa busca interna que mora a força de quem responde ao chamado do Orixá.

Com mais de 30 anos de dedicação, ela cuida de quem a procura sem questionar o motivo. Sua Casa funciona como um quilombo moderno, espaço de apoio social, emocional e espiritual. “Não entrei na religião por necessidade, vício, doença... eu me apaixonei pelo Candomblé. Gostar é muito pouco. O Candomblé, você precisa amar.”

Mãe Valéria também denuncia a perseguição religiosa e o racismo estrutural que ainda isolam muitas lideranças negras e espaços de fé de matriz africana. “A gente sofre uma grande perseguição... O povo precisa se reeducar.” Segundo ela, “quando a pessoa começa a ter preço e não valor, qualquer um compra.” Por isso, valorizar a fé é um ato de resistência: “A gente se fecha por encontrar tanto ‘não’, tanta porta fechada.”

Ela acredita na importância da união, do respeito mútuo entre crenças — “Deus foi tão maravilhoso que deixou as religiões para você seguir o que teu coração fala” — e cobra um olhar mais atento do poder público: “O governo tinha que ter um olhar mais carinhoso para o nosso povo.”

Por fim, deixa um convite simples e profundo: “O Candomblé é o meu chamado. Se for o seu também, seja bem-vindo. E se não for, está tudo bem. Toda religião que faz o bem leva a Deus.” 

Baú dos Saberes

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